segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Vinte e Sete de Fevereiro

Como disse o filósofo magnífico Friedrich Nietzsche, uma vida bem preenchida, se torna uma vida longa. E assim vivo. Preenchendo todos os instantes e todos os espaços de minha vida. E quando me amarguro, talvez seja por que não estou fazendo o que eu poderia fazer, por não está vivendo o que posso viver. De ontem pra hoje vivi tantas coisas. Presenciei tantos casos, escutei tantas estórias, dancei tantas músicas, bebi tantos copos, escrevi tantas palavras. E enquanto o sábado se vai, eu percebo que não preciso me restringir a mais nada. Posso ser tudo que quero ser, não ser uma única pessoa, restrita às suas idéias e seus costumes. Quero a experiência dos que não escolhem. Não quero ter que escolher um único caminho a seguir e me esquivar do que não cabe a esse caminho. Ser é mais do que isso. Ser é não escolher, é não apontar. Nasci nu e sem rótulo. Eu me fiz.

Tem hora que paro e penso: aqui cabe uma vírgula. 

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Vinte e Cinco de Fevereiro

Sol e chuva, pingos dançando no asfalto. Uma mulher escorregou na calçada. Tragédia em público. Chuva grossa, chuva áspera. E uma carência muda no canto da parede, esperando ser notada e saciada. A carência sentida derrubando todo um orgulho, que agora vergado vai sumindo, sumindo. E dentro do peito o desejo desesperado queima toda uma fé, destroça o amor próprio. Um mendigo observa a chuva passar de baixo de um alpendre, e seus olhos não estão mais famintos, estão atentos. De repente a fúria dos trovões a atormentar os medrosos. Um estrondo furioso que ecoa do céu enegrecido. A treva se fez de dia, e a noite nem será mais percebida.

ESCREVER

Amo escrever. É algo que faço por gosto, por aptidão. Não sou forçado nem pago pra derramar aqui minhas poucas palavras. E é por isso que escrevo o que quero, é meu momento de liberdade. Quando me vem algo e fico com os dedos parados em cima do teclado, me pergunto: será que devo escrever isso? Aí, logo me lembro, eu não preciso escrever me preocupando com o que vão pensar. Escrevo pra me libertar, me encontrar e me perder. Hoje meu dia foi completamente diferente. Por conta do sentimento impertinente que me consumiu, por conta das horas que passaram mais ligeiras do que nunca. E de tanto amor que eu senti no final de semana, hoje foi dia de grande cansaço. Mas trabalhei e cheguei à pouco em casa. Conheci umas pessoas novas e pude mudar por alguns minutos o foco dos meus pensamentos. Aqui em casa meus pais já dormem. Insisto em escrever agora por que senti desde cedo uma necessidade. 

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Espetáculo

Ontem por volta de seis horas da noite me encaminhei à biblioteca pública do Benfica. Recebo toda semana um convite para um evento cultural que recomendo a todos que tem oportunidade de sair nesse horário. Merquei com um amigo, mas ele acabou não indo. Existiam mesas num espaço aberto. O tema da peça, pois era uma espécie de teatro, era: cardápio cultural. Nas mesas eram dispostos livros de diversos autores e ao meu lado, enquanto eu lia, pude perceber alguém se sentando à mesa em que eu estava. Era um homem grande. Sentou-se e me perguntou algo que agora não me recordo, respondi. Tentei me fechar na leitura, mas fui atraído por uma conversa por mim pressentida. Perguntei: você participa sempre dos eventos da biblioteca? Ele respondeu rápido e interessado, como se eu não fosse dar tempo para que ele falasse tudo. E essa pergunta gerou outras e outras. Acabei descobrindo nele uma pessoa interessantíssima, de conversa construtiva. Falou-me sobre livros, o que me atraio arrebatadoramente e até me indicou um, que lerei. Conheci um amigo de verdade, penso agora comigo. Deslize meu foi não ter pegado um contato com meu mais novo amigo, e não me recordar de seu nome, nem um telefone se quer pedi. Ambos esperamos um pouco pelo início da peça, eu em particular esperava um amigo que não viria. Eu estava gostando da demora da peça, pois assim podia aproveitar a conversa. Ele me falou que cursou filosofia. Eu falei que escrevo e leio muito literatura brasileira. Ficamos à conversa quando um homem entrou badalando um pequenino sino dando início ao esperado espetáculo e as poesias começaram a ser recitadas, e da boca dos atores teatrais saiam as mais belas recitações. Bebi um pouco de vinho com sangria, fiquei de olhos brilhando. Fiquei muito inspirado com tudo, com a noite, com as pessoas que estavam ali, interessadas na mesma coisa que eu. Pessoas que fazem questão de participarem de uma arte tão bonita por amo e de graça. E alguns convidados que já faziam parte do meio artístico recitaram lindas e sérias poesias, que me eriçaram os pelos do corpo. Senti-me tão completo, no lugar certo e com as pessoas certas. É muito justo trocar o que te dá mais lucro e um falso conforto, por algo que você realmente gosta de fazer. Nada compra a satisfação de fazer algo que você ama. Nada substitui. Foram muitas poesias, foi muita satisfação de minha parte e uma melancolia depois, talvez por querer demais. Em suma pretendo repetir esses programas.  

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

SOBRE UM DIA

       A leitura é uma das grandes causadoras de minhas inspirações. Hoje, tendo o prazo de entrega dos livros emprestados da biblioteca esgotado, me encaminhei até lá. Fui decidido a não pegar novos livros emprestados. Fiquei desapontado com a falta de interesse que senti pelos últimos dois que peguei e considerando a distância e a dificuldade de tomar um ônibus de volta, eu estava decidido. Chegando lá constatei que hoje era o dia de entrega e não foi preciso pagar nenhuma multa, o que também provou que minha memória está em perfeita condições. Pois bem, falei baixinho para a moça que recebe os livros: hoje vou apenas entregar. Ela concordou com um sorriso rápido e quase forçado. Mas de súbito fui atraído pelas prateleiras cheirosas da biblioteca, e fiquei encarando aqueles livros silenciosos, quietos, esperando por um leitor. Aí não aguentei  disse: vou dá uma olhadinha lá dentro. Entrei por entre as prateleiras e lá me perdi. Numa técnica só minha comecei a procurar o livro certo. Tem dia que passo horas escolhendo. Pego sempre dois, não é permitido mais. Hoje tive sorte e bom gosto. Encontrei um livro de crônicas e abri-o. Li um trecho que imediatamente me comoveu alegremente e decidi trazê-lo. Depois encontrei um livro de minúsculos contos, o que me agradou demais. E bastou eu me sentar para lê-los que veio uma vontade descontrolada de escrever. Ah, é como um insone que espera o sono e quando o tem fica completo, repleto de alegria, leve. Na volta esperei, junto de várias pessoas, por um ônibus que me coubesse. Aqui as pessoas ficam penduradas na porta no horário chamado: horário de pico. Eu não me arrisco. Só pego a condução quando me cabe. Veio depois de alguns minutos um ônibus que me pareceu aceitável e subi. Fiquei quase uma hora lá dentro me divertindo com pensamentos tão descontraídos que me espantei com o bom humor que me tomava. Percebi que estava sendo feliz numa situação que pra muitos é deprimente. E ri junto com o resto do povo que numa guerra lutou para pegar a outra condução já no terminal. Ah, estou cansado de queixas. Estou cansado de cobranças. Não aceito mais as complicações. Adeus depressão forçada. Meu espírito é feliz. Agora devo dormir, o relógio acabou de marcar meia noite.

MÚSICA

       Tem uma música, que escuto nesse exato momento, que me embala numa nostalgia boêmia. Uma música que me faz ver coisas nunca antes vistas e sentir aquela velha e comum saudade do que nunca me pertenceu, dos momentos que outros viveram, não eu. Através dela eu vejo becos e roda de samba. Vejo bares com cadeiras de madeira e cerveja pra nunca mais faltar. Vejo o samba no pé dos boêmios e as amizades mais sinceras, mais fatais. E lembro-me de uma felicidade que sempre quis sentir, diferente da felicidade que existi aqui onde vivo. Não que a daqui seja ruim, pelo contrário, os meus sorrisos sempre foram muito verídicos, mas essa tal felicidade que vejo é uma que só se encontra num lugar que não sei onde fica. Mas a percebo, quase a sinto. Só não estou lá, no bar das alegrias desvairadas.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Pequena Estória.

Sem dúvida hoje é um dia de grande sensibilidade de minha parte. Onde uma saudade grande me invade. Saudades dos amigos que agora estão longe e provavelmente ouvindo um samba. Poderia eu fazer o mesmo, mas a noite passada foi de muita dança, e talvez o cansaço seja o grande causador dessa nostalgia que não me incomoda. E de repente uma vontade de sorrir de tudo isso, de toda essa vida bagunçada que levamos e que nos faz, em momentos, felizes demais. Grandes contradições existem, mas os sentimentos efêmeros são mais verdadeiros, na maioria dos casos. Às vezes não prolongar demais é mais lucrativo. Vou ouvindo essas músicas que, lentas, me embalam numa emoção fresca. Escuto uma voz tão bonita de um cantor que nem conheço, mas que envolve. Estou conhecendo um novo escritor, lendo uma seleção de seus contos, me agradei bastante. Há tanto o que escrever. Só que sinto as palavras restritas aos meus pensamentos. O talento é o que existe de mais bonito em cada ser humano, seja ele qual for. Vou contar uma pequena história de amor:

Quando o sol, prestes a se por, ficava mais fraco, ela levantava a cabeça num orgulho com brilhos nos olhos. Ela ia encontrá-lo, e eis que sentiria aquela calma no peito, aquele alívio. Ele a olharia com rapidez, numa timidez tão atraente. E sentariam um ao lado do outro, ambos procurando o que falar, tentando fugir de um silêncio, tentando não causar más impressões. Ela falando coisas tão pessoais, usando palavras íntimas. Ele escutando, esperando sua vez de falar, com um olhar indecifrável. Fim.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Amigos

Ontem recebi a visita de uns amigos aqui em casa. Agente bebeu vodca com refrigerante de laranja e algumas cervejas. É extremamente importante a presença de amizades na vida de cada um. Meus amigos escassos e sinceros possuem, cada um, um pedaço de meu coração. Tenho um amigo de infância que me acompanha na vida como um irmão, e claro tenho grande afeto por ele. Em suma, amigos eu só quero somar, acumular, e viver sozinho apenas quando precisar.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Atuais Trabalhadores


Abre, depois de muita espera um portão branco-amarelecido que dá acesso a uma pequena área ocupada por congeladores. As crianças falantes entram apressadas, ansiosas. A Tia ordena impaciente com voz alta e aguda- aquietem-se, aquietem-se. E as crianças imundas tentam sem sucesso ficar caladas. É um grupo formado por seis meninos e apenas uma menina, muito braba, arengueira. Os meninos trabalham para a Tia. Da cozinha vem um cheiro nada apetitoso de bofe cozido, os meninos contam o dinheiro conseguido com muita andança e suor. A Tia é uma mulher muito aperreada, com afazeres minúsculos que sua mente complica. Ela pensa fazer um bom trabalho. Na televisão passa que trabalho infantil é crime, mas a Tia acha que crime mesmo seria se todas essas crianças ficassem largadas no mundo aprendendo a roubar e a usar drogas, são todos tão pequenos. As crianças são em geral morenas e beiram os dez anos, de um queimado de sol visível, um bronze que a vida lhes deu. Usam roupas velhas, claro, camisas bem maiores que o corpo, calção esgarçado e sujo. Alguns andam de calçados, e outros vão descalços mesmo. Mas todos com o único objetivo de vender e ganhar algum trocado na prestação de contas com a Tia. Eles andam por todo o bairro e ultrapassam fronteiras. Oferecem uma espécie de sorvete, o que atraí muita gente nessa cidade quente. Na placa permanente que fica suspensa no portão da Tia tem escrito preciso de vendedor, os meninos não sabem ler, mas a placa deixa bem claro que todos são facilmente substituíveis. E lá estão os garotos, na prestação de contas com a Tia, alvoroçados, embaraçados pela dúvida. Um menino muito danado pergunta: Tia quanto tenho que dar pra senhora?- a tia responde ríspida, por que apesar de sentir um afeto muito oculto pelos meninos não deixa isso transparecer- dez reais e vinte e cinco. O maior de todos, que exibi uma superioridade por saber contar melhor, começa a dividir o dinheiro. E no final das contas cada qual sai com uma quantia de dois a três reais, felizes. Um ou dois compra da própria mercadoria um sorvete para matar a sede. Os outros, não sei o que fazem com o dinheiro, provavelmente entregam a mãe. No dia seguinte, todos muito dispostos voltam ao trabalho.