terça-feira, 28 de junho de 2011

Expectativas Num Sábado

       Sábado em casa é tudo de bom que existe. Não fui pro curso, nem vou mais, no sábado não. Que ilusão a que eu tive de que daria certo passar o meu sábado inteiro numa sala de aula. Amo estudar, mas no sábado não. O sábado é laser, é o dia que antecede o domingo, e domingo é dia sem compromisso, portanto não precisamos nos preocupar com nada no sábado. E quando chegar a noite, os corações palpitarão mais forte, e as palavras soarão mais altas, os palpites serão mais sérios, o amor pegará fogo. E agente sairá por esse mundo, por esse bairro a procura do que rir. 

sábado, 25 de junho de 2011

A Fila


     A fila cresce rápido, em minutos, pessoas impacientes formam a grande fila para entrar no grande e esperado ônibus. As pessoas se impacientam. Algumas escutam música com fone de ouvido, outras compram salgadinho do vendedor ambulante, a criança assanhada e gripada pede à mãe que compre um pacote de jujuba. E as horas passam vagarosas, e a tarde vai escurecendo. De repente é noite, há quinze minutos esperam estressados os passageiros. A aglomeração agora se torna medonha aos olhos dos velhinhos que esperam moribundos na fila preferencial. A grávida coça a barriga, os olhos fundos, cansados e desiludidos. Chega uma garota de cabelos amarrados e volumosos, cheia de livros grossos nas mãos. Está com mais três meninas franzinas que mal são percebidas. A menina do cabelo amarrado é a líder. Ela conta estórias arregalando os olhos e gesticulando com uma mão só, enquanto as outras escutam com um olhar de baixo pra cima, submisso e atencioso. Eu me encontro no meio da fila, nem tão perto, nem tão longe. Espero conformado, meio sonâmbulo e faminto. Venho do trabalho, do sol. Agora as conversas soam altas, os moleques planejam furar a fila. Alguns trabalhadores exaustos e queimados de sol resmungam palavras quase imperceptíveis, como se tivessem um calo na língua. Mas nada do que está acontecendo é um drama, mas sim vida. É uma parte da vida que está acontecendo. Os ônibus chegam lotados e saem lotados, essa é a hora de voltar pra casa, e todos que estão no terminal desejam a mesma coisa, numa ansiedade de loucos. Quando de longe alguém avista no letreiro de um coletivo o grande nome do seu bairro, o que significa que seu ônibus chegara. E se forma a bagunça. A fila que até então era bem formada, agora perde a direção, e a grande quantidade de gente querendo entrar ao mesmo tempo por uma única porta faz com que o sufoco aumente. O calor é grande, a pressa maior ainda. A hora de entrar é a mais delicada. Todos impulsivos inclinam o corpo pra frente e o atrito entre corpos começa. Eu, numa estratégia bolada, me esquivo um pouco dos empurrões e consigo entrar ileso. Mas quando estou bem próximo da porta, aí é diferente.         As pessoas apressadas, agoniadas, empurram quem está à sua frente, e eu próximo da porta sou levado como por uma onda e se caso quisesse voltar não conseguiria. E as cadeiras são ocupadas num piscar de olhos. No momento exato da entrada existem duas mulheres na frente, uma mais apressada que a outra. A porta se abre e todos tentam entrar ao mesmo tempo. Acontece que as duas mulheres que esperavam o momento de correr para o interior do transporte agora lutam para uma entrar primeiro que a outra, o que deveria acontecer sem nenhuma cerimônia ou intervenção, se a fila fosse respeitada e organizada como deveria ser. Mas as pessoas estão preocupadas em garantir o seu lugar no coletivo. Depois que está dentro aí o alivio se manifesta, o roto de cada abranda, silencia. As duas tentam entrar, mas como há um ferro que divide a entrada em duas, as mulheres não conseguem passar pela mesma entrada e se atritam, mas a mais impetuosa num impulso entra e segue na frente se lançando para o interior. Ela é mais baixa e tem cabelos amarrados, deve ter seus trinta e sete anos. A mulher que ficou pra trás furiosa, se excede e num descontrole taca a mão na cabeça da outra, a mão aberta. E a abriga começa. A outra revida com um pequeno empurrão, mas recua, a mulher que começou é descontrolada e não mede os próprios atos. Eu estou sentado lá no fundo observando a guerra entre os ansiosos. Houve gritos, vaias, e todos quiseram assistir um pouco mais da briga que se deu na porta do coletivo. A mulher que bateu na outra agora fica falando alto: ela me empurrou essa louca, me empurrou e apertou meu braço contra o ferro. Já começando a sentir a culpa, o arrependimento, tenta argumentar ao seu favor, mas já está feito. O transporte segue seu caminho e o motorista não sabe nada do que está acontecendo, ele apenas nos leva de volta para casa. Exaustos, cada qual para no seu ponto e desembarca com o rosto erguido, seguindo numa nova direção. 

sábado, 4 de junho de 2011

Pequeno Resumo Sobre Lorena

Caminhava rumo ao trabalho, como sempre os pensamentos a lhe embaralhar numa ansiedade de quem é jovem. Ansiava momentos, e assim as horas iam marcando a sua vida.
       Resumo sobre Lorena.
       Ela se indagava muito. Lorena ás vezes parava diante de uma dúvida: viver é assim? Perguntava-se confusa. Sentia uma dúvida estúpida a respeito de o seu próprio viver. Viver é agir dessa maneira? Perguntava-se preocupada com a resposta. Mas numa brisa repentina seus cabelos eram levados, eriçava-se, sorria sozinha, alegre. De quando em vez a vida se tornava clara, sem precisar de indagações ou conceitos mais concretos. E seu andado rápido a levava exatamente aonde queria ir. Isso era magnífico, ir até aonde quer chegar. Descobriu que a pessoa chega até aonde deseja, teoricamente isso já era óbvio, mas agora sentia dentro de si uma coerência suprema. Entender para Lorena não era um ato considerado simples ou normal, entender deixava Lorena vigorosa, oscilante. O bonde corria. Não se espantava mais como antes. Olhou para o lado de fora da janela procurando se espantar com alguma cena e viu um cachorro com a cara enterrada num saco de lixo comendo, alvoroçado, uma carniça. Por que se espantaria? Não encontrou o motivo. Virou o rosto para a parte de dentro do bonde. Tinha muita gente calada ali dentro, isso a deixava aflita. O silêncio era como um grito de grande tortura em seus ouvidos. O silêncio para ela era mais agudo que um apito, para ela era a dúvida, a falta de resposta diante de uma dor.
       Caminhar na rua, ela sabia bem. Risonha no seu vagar. Um vestido branco esvoaçante, um laço no cabelo, e de repente, outra mulher.