segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Verbo na Primeira Pessoa do Singular

Eu faço. Eu traço. Eu passo. Eu laço. Eu posso. Eu. Eu quero. Eu peço. Eu tiro. Eu quebro. Eu colho. Eu fosso. Eu. Eu tusso. Eu rasgo. Eu largo. Eu levo. Eu dou. Eu. Eu tiro. Eu estrago. Eu levanto. Eu pergunto. Eu trago. Eu. Eu levo. Eu calo. Eu falo. Eu sinto. Eu pinto. Eu. Eu reclamo. Eu subo. Eu desço. Eu afundo. Eu emerjo. Eu. Eu pisco. Eu beijo. Eu lasco. Eu amo. Eu falo. Eu. Eu calo. Eu atravesso. Eu ultrapasso. Eu junto. Eu espalho. Eu. Eu bebo. Eu como. Eu balanço. Eu caio. Eu pego. Eu. Eu solto. Eu falho. Eu tento. Eu tampo. Eu faço. Eu. Eu escrevo. 

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O Limiar de Uma Tragédia

      Conheci verônica quando eu tinha uns quinze anos de idade, ainda muito alvoroçado eu era com meus pensamentos loucos da adolescência. Eu não gostava dela. Na verdade minha amiga era sua irmã Tais. As duas moravam uma ao lado da outra, Taís com a mãe e verônica com os filhos e marido. Era uma família aparentemente unida apesar dos conflitos freqüentes ninguém era intrigado de ninguém. Sempre fui uma pessoa de me envolver muito numa amizade a ponto de se tornar um quase membro da família e não tardou para que todos da família de Taís me conhecessem. De início a mãe de Taís se mostrava fechada, sem opiniões, sem sermões, sem sorrisos, mas com o passar do tempo ela foi se acostumando com minha presença e com minha agitação interior e exterior. Havia apenas uma pessoa que não gostava de mim, por motivo que desconheço até hoje tendo vinte anos: Verônica.
       Nós éramos muito apegados, a ponto de termos certo relacionamento amoroso. Apesar de Taís gostar de mulheres ela se mostrou, após um tempo de amizade, interessada por mim e eu havia bastante tempo desejava lhe tocar nos lábios com os meus lábios desejosos de seus beijos. O que me faltava era coragem de assumir a atração que eu sentia, afinal de contas ela me contava de seus interesses por certas garotas e eu engolia seco, aquelas estórias, conformado com nossa amizade íntima. Nós passávamos tardes inteiras juntos. Quando Verônica entrava no quarto de Taís, nos surpreendendo, era normal ela me direcionar xingamentos como: Oi veadinho, como vai? E eu tomado por uma raiva descomunal a mandava ir para o inferno lhe despejando palavras horríveis de tão baixas. Ela me repudiava.
       Taís começou a freqüentar minha casa e conhecer minha família, meu pai não gostava da cara dela, pois era muito fechada, a voz baixa, e apesar de ser alta, morena, se mostrava tímida diante dos desconhecidos. Apesar de manipuladora, vim descobrir esse seu defeito depois de um tempo, sua timidez era na verdade uma astúcia disfarçada, como se ela estivesse planejando algo, daí o silêncio, o mistério. Eu a levava para os passeios que fazia com meus pais na casa de uma tia, meus familiares a olhavam, eu percebia, com certo preconceito. Mas nada disso era algo que abalasse nossa grande amizade que só crescia. Além de sermos andarilhos e freqüentarmos diversos lugares, agente bebia muito. O álcool não podia deixar de estar presente nas nossas festas e farras. Sem contar que nós éramos adolescentes e nada pra gente na época era perecível, agente não temia nada e nós não conhecíamos de certa forma a responsabilidade, momentos bons.
       Taís um dia chegou e me contou que havia conhecido uma garota chamada Samara e  que havia ficado com essa menina, que estava começando a se apaixonar, eu fiquei enciumado, mas ao mesmo tempo fiquei curioso, pois significava uma nova pessoa no nosso ciclo de amizade. Eu não sabia se ficava feliz, ou preocupado. No fundo temia perder Taís pra sempre, temia perdê-la pra Samara, o que não ocorreu. Samara apesar de ter dezessete anos era muito presa pela família e não morava tão perto de nós o que dificultava a relação das duas. Elas iam pra minha casa e namoravam lá, eu sozinho sentia falta de alguém, sentia desejos secretos que não compartilhava com Taís. O que me intrigava era que Verônica aceitava tâmara numa boa, apesar do seu jeito masculino, ela a tratava bem, já eu era sempre caçoado.
       Um dia as meninas resolveram não ir para o colégio, o que se tornou freqüente quase diariamente, e compramos bebidas. Fiquei bêbado e discuti com verônica o que marcou nossa intriga, deixando claro pra todos que nós não nos gostávamos. Dessa vez ela se irritou tanto com minhas sujas palavras que contou para seu marido e para a mãe, o que não foi positivo pra mim, pois eles não conheciam a minha versão da história. Taís conversou comigo, fiquei triste, me senti humilhado, mas passado um tempo lá estava eu socado no seu quarto.
       Num domingo de céu nublado as meninas estavam na minha casa, namorando em minha cama, elas não faziam sexo, pelo menos enquanto eu estava por perto. Eu comecei a me envolver na história das duas, nas brigas, dava sugestões, conselhos, abria o olho de cada uma. Fui me metendo como não deve se meter. E Samara apesar de seu aspecto infantil de menina mimada foi se tornando minha amiga, fui descobrindo coisas em comum entre nós o que nos unia diariamente. Na tarde de domingo nublado, Samara precisou ir embora e fiquei sozinho com Taís. O som tocava um jazz romântico, eu me mantinha deitado com minha amiga a lhe fazer carícias, quando num movimento inesperado nossos lábios se encontram e eu numa mistura de espanto e excitação correspondi seus beijos longos e molhados. Quando terminamos os beijos ficamos em silêncio, não tocamos no nome de Samara e lhe confessei de minha atração antiga. Ela me contou que já teria me beijado bem antes se eu tivesse me manifestado.
       Depois do episódio do beijo, nós freqüentemente repetíamos a sena, mas não demorou para que descobríssemos  que não nos amávamos, agente tinha uma amizade grande e íntima, mas era apenas isso. Porém Samara um dia nos pegou sozinhos e aos beijos, o que causou grande briga entre nós três. Nós estávamos todos bêbados e a única que conseguia ter razão era a traída, afinal se sentia apunhalada pelo amigo e pela a namorada. Lembro-me que demorou bastante para que Samara me perdoasse, mas esquecer ela nunca esqueceu, até hoje me passa na cara numa brincadeira aureolada de verdade.  
       Houve um tempo em que começamos a freqüentar a casa de Samara, seus pais trabalhavam o dia inteiro, e pouco as meninas iam pro colégio, hoje já estão concluídas no ensino, afinal foi tudo uma fase. A casa de Samara era grande, silenciosa, com uma cama de casal disponível e uma parte por ser construída. Várias tardes passamos os três deitados naquela cama de colchão mole. As meninas aos beijos e eu aos papos e carência. Elas me chamavam e eu ia acompanhado de um litro de vinho. Apareceram alguns meninos que me foram apresentados, algumas meninas que me fizeram breve companhia, mas no fim das contas eu permanecia sozinho, ocupando um pequeno espaço do colchão e rolando junto de minhas amigas nas tarde infindas, nos sonhos juvenis.
       Existiu um período de nossa amizade triangular em que a mãe de Taís queria deixar o bairro e ir morar em outro local, o que foi suficiente para nos deixar desesperadamente tristes. E saíamos os três a vagar, sem grana, recursos, mas com uma amizade arrebatadora que nos preenchia em todos os aspectos. Agente vagava pelo mundo, e nós pertencíamos ao mundo sem ambições, nós só queríamos uns aos outros. Chorei muito imaginando uma dramática despedida. Acabou acontecendo de Taís descobrir que não ia embora e nossas lágrimas cessaram enxugadas pelo vento.
        Aconteceram os aniversários, as intrigas, as traições, as fofocas. E os anos foram se passando, eu fui me distanciando. A relação das meninas começou a ficar doentia e o fato de eu ser amigo das duas me punha numa posição ameaçadora, perigosa, ambas queriam ajuda e eu não podia deixar uma de lado. Acabei sendo pressionado pelas duas em segredo, uma queria saber isso, outra aquilo, eu ficava em cima do muro. Sem saber de que lado ficar, e sem suportar a doentia relação que as duas criaram com ciúmes excessivos, com atitudes manipuladoras, com chantagens, eu fui me distanciando, fui conhecendo outras pessoas. Até que chegou um dia em que esqueci o aniversário de Taís e ela se magoou comigo, por ser muito apega a datas comemorativas, ela percebia minha distanciação calada.
       Agora, cinco anos depois, as duas continuam minhas amigas. Taís trabalha, estuda, e vive bem com sua namorada que não conheço. Agente foi se afastando aos poucos e chegou um momento em que não nos conhecíamos mais como antes, eu havia mudado, ela havia se transformado em mulher, eu amadurecido, e Samara depois de muita relutância conseguiu acabar definitivamente o relacionamento, começou a trabalhar e se expandiu pelo mundo a fora a procura de novos amores, de novas fobias.
       O que me intriga é Verônica que hoje me trata com tanto amor. Na época de minha grande amizade com sua irmã, quando ela possuía uma família bem constituída, tinha a cara fechada, e sorria debochada. Atualmente quando passo na rua e ela me ver, grita meu nome, me chama atenção com um sorriso aberto, amarelo. Até um abraço ela me deu. Hoje, quando exausto eu voltava do trabalho num coletivo lotado ela me chamou o nome: Ricardo. Eu respondi com um sorriso e ela foi logo falando: Eu vou ter que resolver o problema da loja. Estou me separando e tenho que registrar minha firma. Ricardo, estou perdendo meu marido pras putas. Pude ver a tristeza em seus olhos, sua voz era abafada e surda. Esforçava-se para que a voz não falhasse.  Ele se tornou tão diferente depois que conheceu duas mulheres que atualmente trabalham com ele na outra loja, meu filho mais velho ficou do meu lado e ele disse que o desprezava por isso, você acredita? Ele deixou a igreja, vai só por ir, não ama mais. Ele está sendo vítima de macumba, gasta dinheiro com bobagem e não faz um investimento. Pelo menos vou ficar com a loja lá de casa. Ele me bateu na cara, fiquei com o rosto roxo, vou levar um boletim de ocorrência que consegui na delegacia pra audiência.  Resolveu me deixar pelas vagabundas, e duas logo. Preferiu passar o aniversário dele com elas do que com a família. Saímos do ônibus, eu comovido com a vida dela, ela muda. Dei-lhe um abraço e ela beijou meu ombro, eu lhe disse que ia conhecer um homem bom e lhe pedi que ficasse bem. Seguimos os nossos caminhos, de volta pra casa.
       

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Sua Voz Rouca

Oh meu querido, eu estive pensando na gente, e agora já é hora de dormir, pois já passa da meia noite. Quando eu caminhava de volta pra casa na escura rua, o vento soprou forte em meus ouvidos e então eu pude ouvir sua voz rouca me chamando. Mas eu estive pensando na gente, e de vez em quando pensar em você me deixa muito confuso. Talvez eu não tenha toda certeza, e preciso decidir se vamos até o fim. Com você eu vou ao fim do mundo e não me canso. Mas está na hora de dormir, pois essa insônia tem que acabar. Quando o sol resolver aparecer vou ter que estar bem. E não quero mais ter que duvidar de nós dois. Você deveria me fazer ter certeza. Não seja covarde e me traga a certeza da qual preciso.