quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Refúgios tardios.



       Foi difícil encarar a realidade que me tomara. Eu percebia o quanto o tempo havia passado, e foi tudo tão rápido que não pude enxergar as oportunidades indo embora, eu estava ocupado em satisfazer meu coração ansioso, deixando de pensar no futuro, deixando de imaginar que sofreria. E ali deitado numa tarde quente, o ventilador soprando forte no meu rosto, a minha cabeça ruminando pensamentos angustiantes e as certezas apunhalando o meu peito me fazendo fechar os olhos e encontrar refúgio apenas nos sonhos. A realidade de que tomei posse me aniquilava, e talvez dormindo eu me recuperasse. Ontem aconteceu também. Estava em casa, tentei assistir alguma coisa, mas me faltou concentração, me veio então a fadiga, deitei na cama, o quarto fervendo e eu lutando contra um calor que não me incomodava com um ventilador barulhento e indiscreto. Pensei que poderia está passando por uma crise, talvez uma depressão, mas não gosto de admitir isso, eu sempre lutei por minha felicidade, por que sempre fui espontaneamente feliz. Será que perdi a capacidade de me sentir feliz em apenas está vivo? Eu que tinha em mente conquistar o paraíso sem que pra isso eu precisasse de coisas, sem que pra isso eu precisasse de muito dinheiro ou de alguém.     Mas a questão não era essa, eu me senti profundamente entediado e incapaz por que eu adiava algo, eu adiava uma busca, e isso me parecia perda de tempo, isso me parecia fragilidade e eu não havia me julgado fraco, admitir ser fraco pra mim seria o fim de uma glória, justamente a glória que utilizei para minhas conquistas, a glória de uma vida inteira, e ela parecia está fugindo do meu domínio, eu começava a me tornar uma pessoa inglória, como um mendigo eu pedia piedade na cama, como um doente fugindo das dores eu tentava dormir, fugindo. Posso dizer que em meu estado normal nunca sofri insônia, e talvez por isso nunca tivesse dificuldade para adormecer. Foi então que as imagens começaram a parecer difusas, imagens sem nexo, imagens surreais e fui caindo encontrando o meu refúgio. Ah, doces sonhos, o sonho agora era meu remédio, meu coração apaziguando, encontrando os estímulos irreais. Ao despertar eu tentava voltar para o sonho, eu renegava minha própria realidade, como se a minha vida não acontecesse ao despertar, mas sim ao adormecer. Era como se eu escolhesse viver pra dentro e não pra fora. Mas há um momento em que o despertar é inevitável e o corpo pede ação, a vida grita te acordando, um galo no meu quintal cantava para o céu, reinando com o seu império de galinhas. Eu era chamado pela tarde que se findava. Mas como se eu tivesse tomado um antidepressivo ou algum remédio que ameniza a dor da alma, eu me sentia bem, eu me sentia verdadeiramente bem. Foi então que resolvi ouvir música, ah, quando estou feliz eu escuto música, por que a felicidade me faz entender as coisas, as matérias, as ideias, a felicidade abre minha mente e a torna livre. Enquanto eu me sentia fadigado eu não consegui absorver nada, minha mente se tornava fechada, indiferente a tudo. Hoje aconteceu do mesmo jeito. Quando despertei também já no finalzinho da tarde eu havia voltado ao meu normal, eu me sentia capaz novamente de seguir, eu até me senti capaz de escrever. Amanhã talvez o dia seja diferente, eu espero não ter que passar por tamanha agonia, pois já tenho um compromisso, e quando se tem um compromisso preocupa-se apenas com o compromisso que é mais urgente e o tédio não aparece. Amanhã eu vou em busca daquilo que adiei.

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