quarta-feira, 19 de dezembro de 2012


      
            Um Dia Incomum.

     Sinto um tédio sufocante. Meus amigos estão acomodados em suas casas, na frente dos seus computadores entretidos com um mundo virtual, e eu diante dessa tela só consigo encontrar a falta do que fazer. Deito numa rede que mal me cabe e tento dormir em vão. Um sonho erótico se principia e é interrompido por minha tosse impertinente, tosse de quem fuma, pigarro talvez.  Levanto-me da rede e entro no mundo virtual dos vídeos clipes de músicas que não me entram mais. Músicas que cansei de ouvir. O sol que faz lá fora me impede de sair de casa. Meu pai almoça na cozinha e minha mãe bola um plano pra visitar sua irmã, eu espero ficar sozinho.
         O telefone não toca, eu espero uma ligação prometida. As horas passam insignificantes e são lançadas pela janela a fora. Meu cabelo por cortar, nada de exercício físico. Um remédio básico para evitar a produção excessiva de suco gástrico no estômago. A árvore de natal está sumindo entre a poeira das construções vizinhas. É uma quarta-feira e não parece.  Na geladeira nenhuma cerveja pra refrescar, nenhuma barra de chocolate ou até mesmo um doce de goiaba.
       As pessoas assistem à mesma novela de cinco anos atrás interessadas, sugestivas, opiniosas. Minha mãe joga cinco reais na minha mesa para a passagem de ônibus, vou lhe fazer um favor, passarei a noite fora. Eu e uns amigos que conheci por aí vamos escutar umas músicas e beber pra aproveitar a liberdade de ficarmos sozinhos numa casa penumbrosa e sufocante.
        Vou tomar um banho e me concentrar apenas na temperatura da água, sentado no chão do banheiro como eu fazia quando criança de luz apagada e vela acesa. Entrando num recanto imaginário, numa gruta milenar. Meu cachorro é suicida, escapou de morrer três vezes, tem treze anos e enxerga pouco. Mora na área de estacionamento onde fica o carro do papai e late para quem passar na frente de casa, as pessoas se aborrecem.
        Ela olhou pra mim e disse: Estou cansada de ouvir suas estórias, suas lamentações, seus delírios, você só quer saber de você, me esquece. Eu respondi com um sorriso: quer mais um copo de cerveja? Ela jogou o copo de cerveja na minha cara e me deu o último beijo mais quente e verdadeiro, no céu da boca eu senti um gosto de sangue, mas era só impressão. Ela foi embora sem olhar pra trás e seu coração estava apertado, o meu mais ainda, mas permiti que ela seguisse. Lembrei-me da sena enquanto ouvia, com a cara enfiada no colchão da cama, um rock antigo. Estou com insônia em plena luz do dia.
      Ficaram de me dar uma resposta, eu devo esperar pelas respostas? Minha mente está vazia, meu interesse está zerado, hoje é um dia incomum. Daqui a pouco vou me pôr em frente ao espelho e tentarei pentear meus cabelos de forma que eles fiquem como sempre. Ah, vou vestir aquela blusa preta de mangas compridas e vou dirigir uma moto que não é minha por quase duas horas numa aula de direção sem lógica. Depois talvez um vinho, uns tragos talvez. Dará certo o encontro com os amigos? A resposta é: Ninguém sabe.
      







Nenhum comentário:

Postar um comentário