Um Dia Incomum.
Sinto
um tédio sufocante. Meus amigos estão acomodados em suas casas, na frente dos
seus computadores entretidos com um mundo virtual, e eu diante dessa tela só
consigo encontrar a falta do que fazer. Deito numa rede que mal me cabe e tento
dormir em vão. Um sonho erótico se principia e é interrompido por minha tosse impertinente, tosse de quem fuma, pigarro talvez. Levanto-me da rede e entro no mundo virtual
dos vídeos clipes de músicas que não me entram mais. Músicas que cansei de ouvir. O
sol que faz lá fora me impede de sair de casa. Meu pai almoça na cozinha e
minha mãe bola um plano pra visitar sua irmã, eu espero ficar sozinho.
O telefone não toca, eu espero uma ligação
prometida. As horas passam insignificantes e são lançadas pela janela a fora.
Meu cabelo por cortar, nada de exercício físico. Um remédio básico para evitar
a produção excessiva de suco gástrico no estômago. A árvore de natal está
sumindo entre a poeira das construções vizinhas. É uma quarta-feira e não
parece. Na geladeira nenhuma cerveja pra
refrescar, nenhuma barra de chocolate ou até mesmo um doce de goiaba.
As pessoas assistem à mesma novela de
cinco anos atrás interessadas, sugestivas, opiniosas. Minha mãe joga cinco
reais na minha mesa para a passagem de ônibus, vou lhe fazer um favor, passarei
a noite fora. Eu e uns amigos que conheci por aí vamos escutar umas músicas e
beber pra aproveitar a liberdade de ficarmos sozinhos numa casa penumbrosa e
sufocante.
Vou tomar um banho e me concentrar apenas na
temperatura da água, sentado no chão do banheiro como eu fazia quando criança
de luz apagada e vela acesa. Entrando num recanto imaginário, numa gruta
milenar. Meu cachorro é suicida, escapou de morrer três vezes, tem treze anos e
enxerga pouco. Mora na área de estacionamento onde fica o carro do papai e late
para quem passar na frente de casa, as pessoas se aborrecem.
Ela olhou pra mim e disse: Estou
cansada de ouvir suas estórias, suas lamentações, seus delírios, você só quer
saber de você, me esquece. Eu respondi com um sorriso: quer mais um copo de
cerveja? Ela jogou o copo de cerveja na minha cara e me deu o último beijo mais
quente e verdadeiro, no céu da boca eu senti um gosto de sangue, mas era só
impressão. Ela foi embora sem olhar pra trás e seu coração estava apertado, o
meu mais ainda, mas permiti que ela seguisse. Lembrei-me da sena enquanto ouvia,
com a cara enfiada no colchão da cama, um rock antigo. Estou com insônia em
plena luz do dia.
Ficaram de me dar uma resposta, eu devo
esperar pelas respostas? Minha mente está vazia, meu interesse está zerado,
hoje é um dia incomum. Daqui a pouco vou me pôr em frente ao espelho e tentarei
pentear meus cabelos de forma que eles fiquem como sempre. Ah, vou vestir
aquela blusa preta de mangas compridas e vou dirigir uma moto que não é minha
por quase duas horas numa aula de direção sem lógica. Depois talvez um vinho,
uns tragos talvez. Dará certo o encontro com os amigos? A resposta é: Ninguém
sabe.
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